sexta-feira, 26 de junho de 2009

Morrer com dignidade

A autonomia de morrer com dignidade

Introdução

A morte é vista como tabu e muitas vezes reluta-se em aborda-la como tema de discussão tanto no meio profissional como familiar, sendo considerada como fracasso perante a vida, mesmo que segundo Rego; Palácios (2006) no dito popular é a única coisa certa na vida.
A morte então precisa ser encarada como um processo onde a pessoa passa por situações necessitando de cuidados para que haja qualidade e dignidade no fim da vida. O conceito de morte digna segundo Azpitarte, Basterra, Ordunã (1984) apud Lepargeneur (2009) representa o respeito ao pensamento da pessoa sobre a morte, o alívio da dor, a rejeição da obstinação terapêutica e o direito do doente à verdade e acompanhamento considerando sua autonomia como um bem maior.
Será feita uma distinção entre ortotanásia e distanásia.

Destaques da literatura

A vida e a morte humanas estão extremamente ligadas e para muitos, ambas podem ocorrer com muito sofrimento. E então as questões ligadas a autonomia do homem permite que ele encerre esta etapa de acordo com a sua decisão, pondo fim ao seu sofrimento? Em alguns paises está definido o direito de encerrar a sua vida com a ajuda dos profissionais de saúde; no Brasil esta situação não é permitida envolvendo questões religiosas, éticas e legais.
A literatura aponta diversos aspectos/visões sobre a Eutanásia, aqui considerada como a antecipação da morte, de maneira tranquila, quando há sofrimento além do suportável, avaliado de forma subjetiva pela pessoa e é dependente da ajuda de outra pessoa considerada como benevolente e implica no consentimento da mesma pois não consegue realizar seu desejo por impedimento da doença. Por definição "a eutanásia exige o livre e esclarecido, explícito e repetido, pedido do interessado"(Lepargneur, 2009).
No nosso país, assim como em outras regiões ocorre muito mais a inversão desta situação com a utilização de todos os recursos para prolongar a vida, mesmo que o resultado da cura possa não ser alcançado. O termo utilizado para definir esta situação é Distanásia.
A palavra distanásia significa prolongamento exagerado da morte de um paciente e pode ser empregada como sinônimo de tratamento inútil. A atitude médica que visa salvar a vida do paciente terminal, submetendo-o a grande sofrimento e prolonga o processo de morrer. Embazados no pressuposto de "fazer tudo o que for possível para conservar a vida" são empregados recurssos tecnológicos e humanos de alto custo para justificar a obstinação terapêutica, mesmo que os benefícios não sejam alcançados para aquela pessoa que se encontra no fim da vida.
O termo ortotanásia tem o sentido de morte no seu tempo (orto = tempo certo, em grego), sem abreviação nem prolongamentos desproporcionais do processo de morrer, garantindo humanização da morte, alivio das dores e sem sofrimentos adicionais (Pessini, 2009).
Ao contrário da eutanásia, a ortotanásia não fere o princípio da sacralidade da vida e é aceita pela Igreja Católica, conforme afima Pessini e cita o exemplo do Papa João Paulo II que não se submeteu aos exageros tecnológicos aguardando sua morte a seu tempo.
Neste processo de morrer é necessário cuidados para garantir o alívio da dor, tanto quanto possível, sem perder sua identidade pessoal, garantir ao máximo sua decisão a respeito de seu cuidado podendo recusar qualquer intervenção tecnológica prolongadora de vida, atender suas necessidades espirituais, seus valores e esperanças e que possa ser respeitado na sua decisão de morrer onde queira morrer. São princípios da bioética que necessitam de reflexão e consideração.
A cura pode não ser alcançada mas os cuidados vão até o fim da vida e muita vezes após a morte, com a necessidade de suporte aos familiares no seu luto. Pressupôe-se que esses cuidados, chamados de paliativos, sejam realizados por equipe multiprofissional e com capacitação específica devendo o poder público se responsabilizar por sua implementação .
Desta forma, espera-se que as pessoas que se encontram nesta fase final da vida tenham acesso ao atendimento que necessitam, garantindo o princípio da justiça e dignidade.

Considerações Finais

A finitude humana ainda é um tema complexo e pouco abordado tanto pelos profissionais quanto pelos pacientes.E o cuidado no fim da vida é algo que deverá se realizado de forma compartilhada respeitando a autonomia do ser cuidado no seu processo de morrer, pressupondo que os profissionais tecnicamente capacitados possam contribuir para garantir a dignidade com o mínimo de sofrimento para a pessoa, seus cuidadores e ou familiares.

Referências

LEPARGNEUR, Hubert. Bioética da Eutanásia argumentos éticos em torno da Eutanásia Disponível em http://www.portalmedico.org.br/revista/bio1v7/bioeutanasia.htm Acesso em 24/03/2009

PESSINI, Leo Distanásia: até quando investir sem agredir. Faculdade São Camilo. disponível em: http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/DISTAN%C1SIA%20-%20AT%C9%20QUANDO%20INVESTIR%20SEM%20AGREDIR.PDF acesso e 06/06/2009

REGO, Sergio; PALÁCIOS, Marisa. A finitude humans e a saúde pública. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22 (8): 1755-1760, ago, 2006 Disponível em: http://www.scielo.br/ Acesso em 23/03/2009

SIQUEIRA -BATISTA, Rodrigo; SCHRAMM, Fermin Roland. Eutanásia: pelas veredas da morte e da Autonomia. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.9, n. 1 , 2004. Disponível em http://www.scielo.br/ Acesso em 24/03/2009

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